escuta
como em estado recém-saído de um banho
o bocejo da mata
em sua camisola de folhas
espia de mãos atentas
que ora se esquivam de escorpiões
ora afagam bebês aranhas
o que se celebra na terra vermelha
sob um manto noturno de matéria orgânica
vista mantras, escalas e cheiros
para ser tocada repetidamente por ela
intuo
que não à toa é
o canto que a água entoa
e torna a jorrar
toda vez que findam os tremores
e atingimos o instante fora do tempo:
"Hinomaru" ou o espreguiçar da natureza..
estrelas são como centelhas de azuis infinitos
que perseguem inalcançáveis
meus olhos minguantes de noite tranquila
meus olhos minguantes de noite tranquila
e deitada me deixo estar ao deleite nessa contemplação íngreme por séculos e séculos-luz...
até que uma delas se aproxima, direta e inevitável, e meu olhar se faz lua-nova
e descansa aos primeiros raios-de-sol para a noite seguinte..
Pisar com a palma do pé
Com a pluma das mãos
Com a prece da pele
Cada ponto dessa terra
De cada par de pontas
De cada ponte por onde passo
Inspirar-se deve ser como abrir pontes dentro de si.
Nossos pés estão repletos de raízes.
Uma ponte se abre. Caminho por ela.
- ponte-tábua, galho-ponte, ponte-aérea, ponte-artéria -
deixo brotar um ponto novo
- um ponto-cruz, um ponto-estrela, um ponto-ponte.
Descobrir um ponto, quem sabe um porto assim: já de partida.
Para caminhar de novo e seguir viagem.
E o mundo é um ninho imenso de raízes dançarinas
com vocação para manguezal.
Com a pluma das mãos
Com a prece da pele
Cada ponto dessa terra
De cada par de pontas
De cada ponte por onde passo
Inspirar-se deve ser como abrir pontes dentro de si.
Nossos pés estão repletos de raízes.
Uma ponte se abre. Caminho por ela.
- ponte-tábua, galho-ponte, ponte-aérea, ponte-artéria -
deixo brotar um ponto novo
- um ponto-cruz, um ponto-estrela, um ponto-ponte.
Descobrir um ponto, quem sabe um porto assim: já de partida.
Para caminhar de novo e seguir viagem.
E o mundo é um ninho imenso de raízes dançarinas
com vocação para manguezal.
norteia dentro
de sangue emprestado da seiva de uma árvore velha
resiste ao pisoteamento branco de sola chumbada no solo fértil
mulher manguezal de raízes caboclas
olhos mestiços, pele parda, sertão oriental
de galhos robustos que seguram cada qual
um leque japonês de [folhas]:
aos quatro ventos
seguem abanando céus imensos
dos dias mais claros
às noites mais fundas
com a precisão de uma gueixa
- é preciso mover belezas até o fim da vida.
a determinação de um hábito no tempo geracional perdura o que sou
a mudança de um hábito no meu passo transforma gerações
um espinho de cacto nordestino perfura a pétala de uma cerejeira
a flor sangrou um orvalho lacrimal no ventre da árvore
e dela germinou o sorriso da minha mãe
levo a devoção de um satélite natural às curvas orbitais do meu tronco ancestral
jurema está viva em cada desmanchar de encruzilhada da minha cabeça
seu arco cardíaco sustenta a simplicidade e aponta que o Caminho é um só..
de sangue emprestado da seiva de uma árvore velha
resiste ao pisoteamento branco de sola chumbada no solo fértil
mulher manguezal de raízes caboclas
olhos mestiços, pele parda, sertão oriental
de galhos robustos que seguram cada qual
um leque japonês de [folhas]:
aos quatro ventos
seguem abanando céus imensos
dos dias mais claros
às noites mais fundas
com a precisão de uma gueixa
- é preciso mover belezas até o fim da vida.
a determinação de um hábito no tempo geracional perdura o que sou
a mudança de um hábito no meu passo transforma gerações
um espinho de cacto nordestino perfura a pétala de uma cerejeira
a flor sangrou um orvalho lacrimal no ventre da árvore
e dela germinou o sorriso da minha mãe
levo a devoção de um satélite natural às curvas orbitais do meu tronco ancestral
jurema está viva em cada desmanchar de encruzilhada da minha cabeça
seu arco cardíaco sustenta a simplicidade e aponta que o Caminho é um só..
Butoh, barro, pó, montanha
Vi quando a mando da memória
Ele lambeu desertos antigos
E na língua irrigou com saliva
E no rosto, lágrima
Grão por grão dos destroços da pedra.
Aprendeu com o avô
Que cultivava montanhas lavrando o sabor do tempo
Abrindo nascentes cristalinas
E escorrendo argila fina
Do topo arredondado até o vale.
Brotava argila branca da face-neve e cabelos, vermelho terracota dos quadris-mata e seios, argila preta do pântano e dos pés-raízes.
Sua avó recolhia microcamadas da pele montanhosa com a colher de bambu e apalpava intimamente a matéria ainda úmida. Despia da sua face superfícies cansadas, moldando máscaras na beira do Fugi na borda do dia, abrindo bocas e cântaros de bico-pássaro no fértil do barro nobre.
E o menino seguia se lo-co-movendo e se transformando fogo em flor até o poente.
Só um observador das sombras conseguiria ver o movimento das montanhas e aprender com elas a dançar.
Vi quando a mando da memória
Ele lambeu desertos antigos
E na língua irrigou com saliva
E no rosto, lágrima
Grão por grão dos destroços da pedra.
Aprendeu com o avô
Que cultivava montanhas lavrando o sabor do tempo
Abrindo nascentes cristalinas
E escorrendo argila fina
Do topo arredondado até o vale.
Brotava argila branca da face-neve e cabelos, vermelho terracota dos quadris-mata e seios, argila preta do pântano e dos pés-raízes.
Sua avó recolhia microcamadas da pele montanhosa com a colher de bambu e apalpava intimamente a matéria ainda úmida. Despia da sua face superfícies cansadas, moldando máscaras na beira do Fugi na borda do dia, abrindo bocas e cântaros de bico-pássaro no fértil do barro nobre.
E o menino seguia se lo-co-movendo e se transformando fogo em flor até o poente.
Só um observador das sombras conseguiria ver o movimento das montanhas e aprender com elas a dançar.
respira.
Assume o leme dentro do remo solitário um cardume de carpas anciãs.
Assume o leme dentro do remo solitário um cardume de carpas anciãs.
Reinam aquáticas feito um terceiro olho na cabeça do rio e eu não temo a direção desta canoa, pois estou com elas.
Avoa rasante um mistério fosforescente que trisca o bico num espelho d'água em silêncio para saciar a sede dourada da voz crescida de bicho-fêmea, desloca um murmúrio-acorde-córrego em mim que ressoa nos quatro ventos.
Há reflexos de luz e folhagens de sombra nesse remanso de pouso-pássaro e canto-pluma. Pequenas fadas e duendes brincam cada um com um espelhinho na mão, invisíveis para outros bichos da terra, mas não estranhos para as entranhas da selva. A onça ri graciosamente com a brincadeira. Borboletas cintilam trêmulas com a vibração da força, mas depois relaxam. Faz sol de canudinho e garoa leve. A toca da coruja está levitando e ela provavelmente está dormindo.
Enquanto isso, lá fora o tempo mastiga cascas cadentes de árvore e escamas encolhidas deixadas no leito perene e orbital da vida, e a cobra de água doce troca de pele até suar salgado.
No mar, ondas de ternura. Onde já não dá pé pra ilusão alguma, também não há feridas.
e é no ventre da loba
que encontro pouso (e pulso)
pro analfabeto
pássaro
de meus sentidos
que encontro pouso (e pulso)
pro analfabeto
pássaro
de meus sentidos
e é na lava que varre o vale
na virilha de nascente âmago
que tateia a formiga de fogo
na fúria da rosa
num feixe de luzes
e de cristais
e de cristais
e é na volta invisível
no retorno que reverbera
no intangível da falta
que a flora e a névoa se comungam
e a saudade: néctar..
e agora me imagino deitada numa terra úmida e argilosa sob árvores antigas com tua gravidade toda entregue sobre meu corpo numa calmaria pulsante que abraça o morninho que repousa no cardíaco depois da tempestade... um moinho de afaguinhos-formiga-de-mangue, um enraizar macio de sábios segredos do alento comungado e uma gira cabocla de flechas luminosas que atravessam as camadas epiteliais das mãos do tempo, alcançam o centro da Terra e retornam seiva que percorre cobras vegetais até chegar de novo nas raízes dançantes deste corpo-um-só-corpo, sangue magma nas artérias, vermelho que inventa ninho em nossos úteros para acolher pássaros venusianos, pássaros que escorrem a cada lua uma voz nova para a ave-luz-mãe. Deixo-me semear deste brilho, permito-me ser atravessada pela sua flecha e me ofereço inteira à terra em gratidão.
o gênio da lâmpada
a poeta do udu
a cozinheira e a massa de bolo
o dançarino de frevo e o chão batido
o barbante e o pião de madeira
em movimento
tudo conversa em verso
e vento
nos espirais dourados
dos cabelos dela
recria gira
reluz intenso
procria asas
e alquimiza
em girassóis
com o cosmos inteiro..
nave inválida
se corrompe o céu
e congestiona via de pássaros
nave invasiva
se mais veloz e de vórtices mecânico-famintos
tritura a vez dos vôos mais selvagens e ínfimo-infinitos
o tempo é espiral
árvore é espinha-dorsal
é berçário anti-aço
de ninhos vagarosos
outrossim, vos digo
em impulsos repentinos
desatino
aves
retornarão
passarinhos
e derrubarão
aviões..
se corrompe o céu
e congestiona via de pássaros
nave invasiva
se mais veloz e de vórtices mecânico-famintos
tritura a vez dos vôos mais selvagens e ínfimo-infinitos
o tempo é espiral
árvore é espinha-dorsal
é berçário anti-aço
de ninhos vagarosos
outrossim, vos digo
em impulsos repentinos
desatino
aves
retornarão
passarinhos
e derrubarão
aviões..
sentimento: um entre dentros -
esta membrana fina de pôr-do-sol
contornando o silêncio.
.
é o ato da passagem
da paisagem ao macro
do avanço ao retorno
do aroma à memória
do holofote ao pequeno abajur
na cabeceira da cama.
ou o inverso.
é flecha que vai e volta
perfurando tuneis
no coração da gente
para que o tempo
nunca deixe de passar..
(sambinha)
eu escrevo em lápis
que é pra ouvir no tato
este atrito de grafite
na superfície de um papel sulfite
e a vida em posição de lótus
a caneta é muda, não ousa mais
riscar no tom desta carícia
entre fibra e traço, rabisco e enlaço
no engate do nós no corpo
nós do outro no dentro de si
entre membros cardíacos máximos
janelas, lunetas, gavetas e fins
imensidões elásticas
grávidas de riso e lágrimas.
imensidões erráticas
ávidas de amarras flácidas.
imensidões elásticas
filosofando nádegas.
imensidões aquáticas
no calo, no pêlo, no pássaro..
eu escrevo em lápis
que é pra ouvir no tato
este atrito de grafite
na superfície de um papel sulfite
e a vida em posição de lótus
a caneta é muda, não ousa mais
riscar no tom desta carícia
entre fibra e traço, rabisco e enlaço
no engate do nós no corpo
nós do outro no dentro de si
entre membros cardíacos máximos
janelas, lunetas, gavetas e fins
imensidões elásticas
grávidas de riso e lágrimas.
imensidões erráticas
ávidas de amarras flácidas.
imensidões elásticas
filosofando nádegas.
imensidões aquáticas
no calo, no pêlo, no pássaro..
- caixa-preta 1.1.
tua nua lua sol-ar(de)
cabelo . raiz . e . riso
narciso
curvas avessas
atabaque ave alaúdes
tato selva seiva
cordas e cardumes
galhos céus veredas
encostas e vagalumes
(guardo a tempestade numa caixa-preta..)
se. regresso
ar voraz
anuvio
em navios
inversos
pavios tortos
fósforos e
aviões
e se afundo
teclo, trisco e faísco
entalho semi-céus
com atadas centelhas
:
.
entulho retalho retiro respiro reparo
.
"tem uma ternura pegando fogo em cada estrela.."
.
des-invento
há vento para desviar a chama
.
des-mergulho
retorno artéria e silencio
.
terra
cio
terra
.
arr-et 🔙
.
parte do que parte
relampeia.
tua nua lua sol-ar(de)
cabelo . raiz . e . riso
narciso
curvas avessas
atabaque ave alaúdes
tato selva seiva
cordas e cardumes
galhos céus veredas
encostas e vagalumes
(guardo a tempestade numa caixa-preta..)
se. regresso
ar voraz
anuvio
em navios
inversos
pavios tortos
fósforos e
aviões
e se afundo
teclo, trisco e faísco
entalho semi-céus
com atadas centelhas
:
.
entulho retalho retiro respiro reparo
.
"tem uma ternura pegando fogo em cada estrela.."
.
des-invento
há vento para desviar a chama
.
des-mergulho
retorno artéria e silencio
.
terra
cio
terra
.
arr-et 🔙
.
parte do que parte
relampeia.
{aço-cena}
catedral da sé
nordestino entre pombas
sob o sino..
terceiro sinal
entre a cena, a sina e o sino
não se acena, açucena
inda que se assine nome, assovia fome
diz do aço que esquenta-esfria
ressoa, açoita e agoniza
nos emplaca: via sacra
e onde já não caberiam
mais ritmo nem verso
arrisca também o rima-dor
sem casa ou regresso:
onde andará o diretor?
catedral da sé
nordestino entre pombas
sob o sino..
terceiro sinal
entre a cena, a sina e o sino
não se acena, açucena
inda que se assine nome, assovia fome
diz do aço que esquenta-esfria
ressoa, açoita e agoniza
nos emplaca: via sacra
e onde já não caberiam
mais ritmo nem verso
arrisca também o rima-dor
sem casa ou regresso:
onde andará o diretor?
Frente ao fogoDa fera afoita e falsaA faca fértil da força A fé na façanha da florFincando a farsa.
Menos camomila, menos flor-de-maracujá, mais flor-carnívora.Nem rosa muda nem muda para poda ornamental nem flor que se cheire.Nem Maria de Espírito Santo nem Amélia que era a mulher da verdade de homem nenhum Nem dentes -de-leão: dentes-de-leoa.
Não são de pétalas as lágrimas nem são feitas para flor.
Chora homemDesaba na terra Desata da couraça de merdaCom choro, com velaSeja comido por ela:Pachamama está em festa!
Pois minha dor me interessaMas me interessa ainda mais saber que não nasci monogamicamente para a lágrimaMuito menos para você.E que também não cresciNem pra pia nem para o seu colchão "tamanho Rei"Nem para rir de suas piadas escroto-machistasNem com promessas santas a serem escritas na lápideNem para ser sua mãe e mãe dos seus filhos ou mãe dos seus privilégios ou dos abismos emoldurados de quem quer que seja
Não vim como obra de caridade Nem pra salvar a Idade das Trevas A bruxa segue solta!Segue sendo todas as evasEvas, heras e ervasElas e euE teu fogo não me queima mais nem me chama.
Quero mesmo é olhar nos olhos das minhas sombras, das minhas manhas, das minhas manas, das chamas nossas que nos amam muito maisE adentrar este mistério-fortalezaDe faróis acesos para mim mesma.Cavernas florescem orvalhadas no meu mergulho de auto-conhe-cimento, areia branca e sal E respiro e desfaço ninhos e descamo luas e sangro sem qualquer constrangimento.Danço "como uma flor que não pede licença para nascer".Desmorono, reconstruo e sigo.Sei que não estou só.
Neste mesmo embalo cantoE a voz de sereia também não me basta.Assanho em mim o verbo-substância transfor~mar.É intenso firmar os pés sob as ondas na tempestade.Mas vejo vida e poema renascendo entre eu e vocêToda vez que encaramos algum silêncio petrificado E atravessamos essa fenda no peito e na vozDe pés descalços e olhar valente Na direção de um horizonte vermelho.Poente de velhas morais Crescente de força, união e liberdade.
amar é fincar um prego no meio do tronco do mundo
pra pendurar telas de pássaro
tentar emoldurar o vento quando perfumado..
mas é junto
perceber o desenho
do leito
nas corredeiras da folha
descamar no ato
sangrar a lua
sorver a seiva
manchar a cama
conjugar asas
libertar o traço
o passo
e a saliva do olho.
pra pendurar telas de pássaro
tentar emoldurar o vento quando perfumado..
mas é junto
perceber o desenho
do leito
nas corredeiras da folha
descamar no ato
sangrar a lua
sorver a seiva
manchar a cama
conjugar asas
libertar o traço
o passo
e a saliva do olho.
um coração aberto não é aquele que rema sem direção, mas é quem tem como farol sua intuição, a intenção mais simples, real e profunda da alma. Quem assume as inconstâncias de ser livre não vê espontaneidade na maioria dos contratos e não quer viver estrategias sensatas para evitar medos ou transformações. Pelo contrário, ele opta por desbravar as próprias inseguranças, assumi-las e desatá-las. Está sentindo isto agora e já não é o que era há duas semanas. Percebe as marés e os ciclos. O frágil, a força e a ressaca. Portanto age segundo o que está vivo. O caminho segue iluminado. Também não é uma obediência cega ao desejo. Sabe das suas necessidades e as responsabilidades de barco que tem onde chegar. Um coração aberto se abraça com amor e sem culpa.
Tenho o tempo fora de mim. Sou toda espaço dentro, até as bordas da pele, a ponta dos fios, até as beiras do outro. Sou espaço no corpo desde o leito onde dois outros rios se fundiram passageiramente e se fingiram eternos. Não tenho o tempo em mim. Careço de música pautada, toda Ela é cantada apenas pelo que me toca dentro. Pelo que alcança meu espaço íntimo. E desafia as fronteiras de dentro-fora. Quando "nascem" o tempo, aprendo o lento e o atraso. Sou acalanto de mundo ao tempo mudo e aflito da seta que corre no sentido alunar do espaço. Insisto no embalo da criança insone. Dizem que quando "nasceram" a criatura, cravaram suas pálpebras nas sobrancelhas e proibiram-na de ninar. Para que não sonhasse algum dia em ser outra coisa. Então inventaram antes e depois e deram nome aos movimentos naturais do espaço. Quando o que é espaço dentro passa a dançar fora, nasce a flor, corola, primavera. Quando o contrário, é a flor no dentro, semente, diz-se que outona. Achei uma violência menor do que a seta. E até uma espécie de salvação. Então passei a me dedicar a isto, aos espaços no tempo.
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